Memórias

Passámos num ápice , de um outono estival a um outono invernoso , de um calor fora de época para chuva e vento com fartura .
Assim está o dia hoje . Lá fora o vento sopra e a chuva cai em abundância ...
Vim até á cave procurar uns livros infantis para a minha filha (que está a tirar o curso de educadora de infância) e acabei sentada no meu cantinho preferido da cozinha de lenha , em frente á janela , a olhar para o jardim e fixando o olhar na cor cinza claro do céu .
A memória voou rápida até á minha infância ...
Tinha 7 anos e vivia nos Açores , na Ilha de Santa Maria , onde as casas  eram térreas e com grandes quintais , o que nos permitia pular e brincar á vontade . Naquele dia também chovia e não pude ir brincar lá para fora . Fui até á casa de jantar , puxei uma cadeira e de joelhos fiquei á janela de guilhotina(onde tantas vezes entalei o pescoço e os dedos !!) .
Eram horas do estudo e a minha mãe que estava na cozinha gritou :
 - Olga !Já estudáste a lição ? E já fizeste a cópia ?
Ao que eu respondi :
- Estou a ler !
Mentira !... Através da janela olhava para o lado esquerdo e o Pico Alto já não se via , encoberto pelo nevoeiro e o monte em frente ao quintal também estava a encobrir , senti-me triste . Mas tinha que ler a lição , tão apropriada áquele dia . Fui buscar o meu livro de leitura da 2ª classe , empoleirei-me novamente na cadeira e comecei a ler em voz alta :
Tarde fria . Céu pedrento ,
Ora branco , ora cinzento .
Profunda melancolia .
Pálido sol nas calçadas
Põe manchas amareladas .
Sol de inverno . Tarde fria .

                                    .

E ficou para sempre na minha memória o texto e o dia ...

Olga